O Mundo desperta e transforma-se com o teu amor
Ou, lésbicas, ursas e a queerização da Cena de Dois Badiouana em "Yurikuma Arashi" de Kunihiko Ikuhara
Palavras-chave:
Kunihiko Ikuhara, Yurikuma Arashi, Cena do Dois, Alain Badiou, Yuri, Teoria Queer, Amor e política, Horror cinematográfico, Animação japonesa, Anime, Género e diferença, IntertextualidadeResumo
Este artigo analisa a série de anime japonesa de 12 episódios Yurikuma Arashi (2015), de Kunihiko Ikuhara, à luz do conceito da Cena do Dois do filósofo francês Alain Badiou. Ikuhara, conhecido pela sua realização de séries como Revolutionary Girl Utena, constrói uma narrativa visualmente rica e simbolicamente multifacetada, inspirada no yuri—um género de mangá e anime focado em relações românticas entre mulheres, com um historial de demografias fluidas no panorama mediático japonês—e elementos do cinema de terror, incluindo o clássico giallo Suspiria, de Dario Argento.
A história segue Kureha Tsubaki, uma estudante cuja vida pacífica é destruída quando a sua namorada, Sumika, é devorada por um urso. A sede de Kureha por vingança entrelaça-se com a jornada de Ginko e Lulu, duas ursas antropomórficas com uma agenda misteriosa que se infiltram na sua escola. Juntas, as três protagonistas enfrentam a Tempestade Invisível e a Igreja de Kumaria, entidades autoritárias que impõem a conformidade de grupo através de opressão violenta. No processo, acabam por confrontar-se a si mesmas, transcendendo os seus próprios desejos egoístas ao abraçarem uma militância no amor.
Yurikuma Arashi também presenteia o espectador com a utilização subversiva, característica de Ikuhara, do voyeurismo, do gaze, e do fan service ecchi, com sequências memoráveis de transformação ao estilo magical girl no surreal Tribunal da Separação e nos seus Julgamentos Yuri, onde é concedida a “aprovação yuri”. Assim, através da análise narrativa, da intertextualidade e de uma exploração dos visuais e cinematografia, argumento que a série, situada num “yuriverso” onde os conceitos tradicionais de diferença sexual não se aplicam, não só ilustra a Cena do Dois de Badiou, mas também a reimagina, expandindo-a para além da sua estrutura aparentemente hetero- e mononormativa, ao focar-se na diferença em si.
O artigo conclui refletindo sobre como Yurikuma Arashi posiciona o amor como um catalisador de transformação social e política, invocando uma “política do amor” que o próprio Badiou rejeita.
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